Rio de Janeiro, 19 abr (EFE).- Um sapo da Amazônia acasala com fêmeas
mortas acidentalmente por asfixia durante o ato, em uma estratégia para
evitar a perda dos óvulos e preservar a espécie, que foi documentada
por biólogos brasileiros.
Após provocar a morte da fêmea por afogamento devido a seu peso, o
macho mantém o abraço sobre sua companheira inclusive durante horas, à
espera de que ela libere os óvulos na água para fecundá-los, explicaram à
Agência Efe os pesquisadores.
De acordo com os biólogos do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa), a morte de fêmeas durante o acasalamento é comum nas
espécies de sapos que costumam se concentrar maciçamente em brejos ou
lagoas para se reproduzir.
"No geral, o que ocorre com as espécies com um comportamento similar é
que, quando a fêmea morre, o macho deixa de abraçá-la e a fecundação se
perde", explicou a bióloga Albertina Lima, pesquisadora do Inpa e uma
das autoras do artigo em que foi descrita a necrofilia.
"Descobrimos que, nesta espécie, o macho continua apertando a fêmea
já morta até conseguir a fecundação. Não se conhece nenhuma outra
espécie de sapo que retire os óvulos da fêmea morta e os fecunde",
acrescentou.
A espécie identificada como necrófila é a Rhinella proboscidea, que
mede até 5,5 centímetros, já descrita pelos cientistas, endêmica da
Amazônia central e difícil de ser observada porque não sobrevive em
regiões desmatadas.
A espécie pratica a "reprodução explosiva", não muito comum entre os
sapos e que acontece quando um número muito elevado de indivíduos se
concentra durante dois ou três dias nos lugares de reprodução, em geral
na beira de riachos ou cabeceiras dos rios.
As fêmeas vão para o local para deixar seus óvulos à espera de que
sejam fecundados e se retiram, mas os machos permanecem todo o tempo
ali, disputando as possíveis companheiras.
"Quando a fêmea entra na água muitos machos tentam subir sobre ela e,
sem deixá-la voltar à superfície, terminam afogando-a", explica William
Magnusson, também pesquisador do Inpa e outro dos autores da
descoberta.
"Trata-se de uma morte acidental. Não é intencional. São muitos
machos disputando cada fêmea que chega. Vimos pequenos brejos em que se
concentravam entre 50 e cem sapos e chegamos a contar mais de dez fêmeas
mortas. Não sabemos se se trata de um número elevado ou não. Ainda
temos que estudá-lo", explica Albertina.
Segundo a bióloga, os casos de necrofilia aparentemente não ameaçam a população da espécie.
Albertina acrescentou que o comportamento pode ser explicado pela
teoria da seleção natural devido a que o propósito é o sucesso
reprodutivo.
O comportamento inédito foi verificado em observações realizadas na
reserva florestal Adolpho Ducke, administrada pelo Inpa e localizada a
cerca de 26 quilômetros de Manaus.
Os pesquisadores descobriram duas pequenas lagoas aonde grupos de
Rhinella proboscidea iam para se reproduzir e recolheram 15 fêmeas
mortas em junho de 2001 e outras cinco em junho de 2005.
Em nenhuma foram achados óvulos, o que demonstrou que o macho esperou até que os expulsasse.
Os biólogos também colheram e observaram os ovos deixados pelas
fêmeas mortas até que entraram em estado embrionário, com o que puderam
verificar que todos tinham sido fecundados. EFE
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