São Paulo, 12 out (EFE).- Pesquisadores da Unicamp desenvolveram um
projeto inédito com células-tronco aderidas a fios de sutura, usados em
cirurgias, o que pode revolucionar a medicina brasileira na regeneração
de tecidos.
"As células-tronco, retiradas dos tecidos adiposo, ou seja a gordura,
foram colocadas no fio de sutura comum com cola de fibrina, uma cola
médica muito resistente e que modificamos para manter as células vivas
durante a aplicação", explicou à Agência Efe o biólogo Bruno Volpe, que
há três anos está desenvolvendo o estudo.
Os testes feitos com o material apontam o fechamento de 75% de
ferimentos em apenas três dias e, segundo Volpe, "depois de vários
testes, elas são capazes de sobreviver sete dias".
A cicatrização é uma das fases mais preocupantes após a cirurgia,
pois depende das condições de saúde de cada indivíduo, mas com o uso das
células-tronco, dois pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp descobriram a regeneração em uma fístula intestinal.
O pesquisador conta que este processo pode ser realizado em qualquer
tipo de ferimento, como os de diabetes e provenientes de plásticas, mas
que a fístula do intestino foi escolhida por ser um tecido fácil de ser
lesionado e difícil de cicatrizar.
A grande inovação da pesquisa de mestrado de Volpe foi a metodologia
de implantação das células-tronco na fístula através de um fio cirúrgico
e este processo foi patenteado pela Agência de Inovação Inova Unicamp.
O próximo passo, segundo o cientista, é melhorar o tempo de vida das
células-tronco para 15 dias e poder exportar a técnica a outros países.
"Mas antes, a expectativa é de viabilizar o uso do método no sistema
público de saúde brasileiro para diminuir o tempo de internação, o que
significa menos gasto público e melhor qualidade de vida ao paciente",
disse Volpe.
O biólogo destacou que está procurando parcerias para financiar
investimentos para que a técnica seja expandida a um maior número de
atendimentos, já que, atualmente, o procedimento é realizado apenas com
pacientes da universidade.
O teste inicial foi feito com ratos, nos quais as células-tronco
regeneraram quase todo o tecido do intestino dos animais, resultado que
indica uma boa adaptação em pessoas, já que estas células são
encontradas no organismo humano, capazes de se transformar em outros
tipos celulares, ajudando na reestruturação dos tecidos dos órgãos.
O tempo de recuperação das fístulas por meio do tratamento
convencional nos ratos é equivalente ao organismo humano e pode levar
até dez semanas, mas com os fios de células-tronco a aceleração do
processo é "um milagre", segundo Volpe.
Desde a década de 1970, quando a medicina descobriu a existência e
capacidade das células-tronco, pesquisadores buscam formas de aproveitar
o potencial dessas células.
De acordo com Volpe, a aplicação direta das células-tronco não dá o mesmo resultado do que o fio de sutura enriquecido.
Em uma pesquisa espanhola, usada como referência pelos brasileiros,
foi testado o poder da célula-tronco diretamente na ferida, mas sem o
mesmo resultado de cicatrização; além disso, outra pesquisa dos Estados
Unidos produziu fios semelhantes aos de sutura, mas com quantidade
limitada de células-tronco.
Porém, os pesquisadores brasileiros conseguiram implantar as
células-tronco em fio de sutura longo, com cerca de 30 centímetros, e
após dois dias de preparação foi aplicado para o teste com a expectativa
de que o material sobreviva por sete dias.
O estudo apontou que o procedimento não exige testes de
compatibilidade da adesão das células nos pacientes e não há sinais de
inflamação ou rejeição no organismo em que as células foram aplicadas.
Essa linha de investigação da Unicamp surgiu em 2005 a partir de
aulas de cirurgia plástica, nas quais o cirurgião Ithamar Stocchero
questionou o uso de células-tronco em fios de sutura.
"É muito importante ver os resultados de um trabalho árduo que
oferece uma técnica barata que pode expandir. Isso mostra que o Brasil
tem condições de produzir ciência igual ou melhor que outros países",
ressaltou Volpe. EFE
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